“Toma um fósforo. Acende teu cigarro!…” Não use isqueiro. Fósforo! Risque e leve-o suavemente a tua boca com a delicadeza e carinho da mão outrora reservada para afagar o rosto dela. Contemple o saboroso e quente beijo amigo da pólvora. Inspire, trague, inale! Entregue-te ao primeiro trago tal qual fizera em vosso primeiro beijo. Encha teus pulmões e te permita viver esse momento intensamente. Esqueça porque vieste até aqui concentrando-te na taquicardia imediata que o primeiro trago trás àqueles que ficam um tempo se negando esse prazer.
Relaxa, não te culpes! Afinal, que grande virtude é essa que parece estar sendo violada? Quem de fato estará causando dura pena a tua chaga?… Sentes a pressão baixando? É disso que precisas agora. Viaja, voa para longe, livra-te momentaneamente das ansiedades, angústias, aflições…esquece da lama que te esperas! Na companhia de teu pito não precisas mais pensar como poderia ter sido diferente e muito menos no que poderias ter feito se não fosse um covarde, que ao sentir a inevitável necessidade de também ser fera ficaste com tanto medo de se permitir viver teus sentimentos plenamente.
Esta é tua redenção! Juraste que não perderia a próxima da mesma forma. Então começa agora! Liberta-te da inseparável companheira Ingratidão. Foge do medo de te entregar. Não apedreje nem escarre, viva! Não deixe esta paixão que está em tuas mãos escapar também. “Toma um fósforo. Acende teu cigarro!”
—
Remix feito a partir de “Versos Íntimos” de Augusto dos Anjos.