A distância

Ah, a distância! O que tem de amendrontadora tem de poderosa. Como tudo parece tão duro, firme e imutável sem ela.


Se ter uma rotina faz bem ao homem, sair dela é o supra-sumo da benfeitoria. Imersos na rotina temos o olhar míope da formiga, que consegue ver cada detalhe, e trabalhamos mentalmente todos eles. Como uma boa formiga em cima de uma mesa, analisaremos todos os grãos de açúcar ali abandonados e bolaremos as melhores estratégias para nos alimentarmos deles.


Mas então a distância nos permite o olhar amplo da águia. O olhar que não consegue reparar quantos grãos de açúcar existem na mesa, e nem bolar estratégias para transportá-los e protegê-los. Mas é esse olhar que permite ver que existem vários outros alimentos além da mesa, e que toda a logística e complexidade dos grãos de açúcar da mesa talvez não sejam tão importantes assim.  De cima se vê que existem várias mesas, prateleiras, potes, frutas. Fontes infinitas de alimento para a pança e a alma de formigas e humanos.


Ser formiga é bom. Detalhes do cotidiano são apaixonantes e nos moldam. Mas devemos sempre lembrar de montar em uma águia e nos distanciar da mesa. Ver o todo e repensar nossas preocupações. Saindo da mesa nos permitimos sair da caixa.