A última vez que nos vimos era dia dos namorados. Não poderia existir data mais irônica para nossa primeira despedida. Apesar dos maravilhosos dias compartilhados não havia o que se comemorar e nem tínhamos dúvidas sobre minha partida.
A primeira vez que nos vimos estávamos em um estacionamento, mas curiosamente não estacionados. Eu caminhava entre os carros e você procurava uma vaga. Quando, naquele milisegundo que parece durar até agora, nossos olhares se cruzaram estava selada nossa cumplicidade. Palavras nunca foram necessárias e nunca serão suficientes para explicar o que aconteceu. Simplesmente sabíamos que estávamos diante de alguém especial.
E assim vivemos aqueles dias. Como bons cúmplices resistentes à tentação do status quo social de mergulhar em fórmulas pré-fabricadas sobre como as relações interpessoais devem acontecer. Fomos tudo e nada um para o outro. Beatniks saídos de um livro do Kerouac tomando seu vinho e aproveitando a vida sem maiores preocupações.
Te observando me reencontrei comigo mesmo. Sua solteirice é inspiradora! Me faz encher os pulmões e sonhar, acalmando minhas angústias e anciedades. Sua independência, quase revolucionária nos mundos atuais, não é daquelas autonomistas ou recludentes. Pelo contrário, é divertida, espontânea, e até mesmo inusitada! Volátil, mas não efêmera. E principalmente, sempre, sempre acompanhada de deliciosas gargalhadas.
Os paradoxos que forjam essa solteirice são instigantes. Dão espaço para carência ao mesmo tempo que nutrem inúmeras paixões. Permitem movimentos rápidos e intensos, assim como te dão liberdade para desfazê-los a seu bel prazer. Senhorita de seu próprio tempo, vive em uma xilogravura de Escher sem se angustiar. Transforma-se em minha musa inspiradora sem pedir licenças.
Por tudo isso, eu que já andava traumatizado dessa história de relacionamentos me permiti apaixonar-me por sua solteirice! Se seria estranho comemorarmos algo em um dia dos namorados, é com alegria que te proponho hoje um brinde no dia dos solteiros.
Dizem por ai que quem se apaixona acaba namorando, casando….Não! Essas instituições relacionais não dão conta de seus sentimentos. Somente na solteirice você tem espaço para se entregar a você mesma com tanta intensidade.
Seu coração pagão é bem maior que uma relação.